A Mozambique Museums estabelece uma visão geral,
alinhada com a situação e problemática a nível mundial,
integrando os grandes temas da actualidade,
no contexto do século 21.

 

Visão geral


1. Dos dois pilar-base

A MOZAMBIQUE MUSEUMS tem dois fundamentais objectivos de topo que entende ser, em alinhamento com as ideias-chave das organizações internacionais e multilaterais da actualidade, os dois pilares-base para o desenvolvimento no século 21, que definem valores essenciais, nomeadamente:

Contruir a Paz

Promover a Vida

O estado do mundo e o actual e acelerado processo de globalização e degradação ambiental tem colocado a humanidade perante o enorme desafio e responsabilidade em implementar a nível global a filosofia do desenvolvimento sustentável. Esta filosofia assenta, essencialmente, em suas componentes de acção:

A organização política, económica, social e cultural da sociedade humana a nível global

A defesa e protecção da biosfera como o garante último da nossa sobrevivência enquanto espécie e no nosso planeta

Estas duas componentes servem de fundamento, ponto de partida e orientação para nos guiar nos desenvolvimentos actuais e futuros. Um aspecto crucial é compreender as interligações dinâmicas entre estas duas componentes, a cultural e a ambiental, que reciprocamente se influenciam, e definem as duas vertentes do património: o cultural e o natural.

Promover a salvaguarda, a valorização e a dinamização do património torna-se agora uma urgente tarefa e responsabilidade que deve ser assumida em colaboração e interligação com todos os agentes da sociedade, sejam eles os órgãos de governo, as instituições públicas, as entidades privadas, as organizações da sociedade civil, ou os cidadãos individualmente.

A acção dos museus, enquanto instituições, e da museologia, enquanto ciência, tem, ao longo dos tempos recentes, com a evolução e implementação de valores, princípios e metodologias, tornado mais e mais influente o seu papel social, tornando-se evidente nas temáticas seguintes:

Sustentabilidade e Desenvolvimento Local

Paz e Direitos Humanos

Democracia Cultural e Inclusão

De um modo geral, trata-se de formular pedagogias e implementar medidas que vão ao encontro daqueles dois pilares-base na construção de um mundo melhor para este nosso século 21, onde se definirá as grandes orientações que determinarão, pelos seus resultados, o futuro próximo da humanidade e o legado que se deixará às gerações vindouras. Promover o património irá exigir determinação, firmeza e coragem.

A acção museológica é multidisciplinar e interdisciplinar, e tem-se demonstrado que o seu sucesso depende criticamente do trabalho em rede e em parcerias colaborativas. Daqui a emerge a ideia que “os museus não têm fronteiras, têm uma rede de trabalho” (ICOM).

A acção museológica é um instrumento para a construção da paz e a conservação da natureza.


2. Da construção da paz

O preâmbulo da Carta de Constituição da UNESCO ilumina bem a problemática associada à construção da paz, que se transcreve aqui em tradução livre do original em inglês:

Os Governos dos Estados Partes desta Constituição, em nome de seus povos, declaram:

Que uma vez que as guerras se iniciam nas mentes dos homens, é nas mentes dos homens que devem ser construídas as defesas da paz;

Que, através da história da raça humana, foi a ignorância sobre as práticas e sobre as vidas uns dos outros uma causa comum da suspeita e da desconfiança entre os povos do mundo, através das quais suas diferenças com enorme frequência resultaram em guerras;

Que a grande e terrível guerra que acaba de chegar ao fim foi uma guerra tornada possível pela negação dos princípios democráticos da dignidade, da igualdade e do respeito mútuo dos homens, e através da propagação, em seu lugar, por meio da ignorância e do preconceito, da doutrina da desigualdade entre homens e raças;

Que a ampla difusão da cultura, e da educação da humanidade para a justiça, para a liberdade e para a paz são indispensáveis para a dignidade do homem, constituindo um dever sagrado, que todas as nações devem observar, em espírito de assistência e preocupações mútuas;

Que uma paz baseada exclusivamente em arranjos políticos e económicos dos governos não seria uma paz que pudesse garantir o apoio unânime, duradouro e sincero dos povos do mundo, e que, portanto, a paz, para não falhar, precisa ser fundamentada na solidariedade intelectual e moral da humanidade.

Por esses motivos, os Estados Partes desta Constituição, acreditando em oportunidades plenas e iguais de educação para todos, na busca irrestrita da verdade objectiva, e no livre intercâmbio de ideias e conhecimento, acordam e expressam a sua determinação em desenvolver e expandir os meios de comunicação entre os seus povos, empregando esses meios para os propósitos do entendimento mútuo, além de um mais verdadeiro e mais perfeito conhecimento das vidas uns dos outros.

Em conhecimento, eles, por este instrumento criam a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, com o propósito de fazer avançar, através das relações educacionais, científicas e culturais entre os povos do mundo, os objectivos da paz internacional, e do bem-estar comum da humanidade, para os quais foi estabelecida a Organização das Nações Unidas, e que são proclamados em sua Carta.


3. Da conservação da biodiversidade

O preâmbulo da Convenção Sobre a Diversidade Biológica (1992) descreve sumariamente a problemática da conservação da biodiversidade, que se transcreve aqui de forma livre sobre o original em inglês:

“As Parte Contratantes:

Conscientes do valor intrínseco da diversidade biológica e dos valores ecológicos, genéticos, sociais, económicos, científicos, educativos, culturais, recreativos e estéticos da diversidade biológica e dos seus componentes;

Conscientes também da importância da diversidade biológica para a evolução e para a manutenção dos sistemas de suporte da vida na biosfera;

Afirmando que a conservação da diversidade biológica é uma preocupação comum para toda a humanidade;

Reafirmando que os Estados têm direitos soberanos sobre os seus próprios recursos biológicos;

Reafirmando também que os Estados são responsáveis pela conservação da sua diversidade biológica e da utilização sustentável dos seus recursos biológicos;

Preocupados com a considerável redução da diversidade biológica como consequência de determinadas actividades humanas;

Conscientes da generalizada falta de informação e conhecimento sobre a diversidade biológica e da necessidade urgente de se desenvolverem capacidades científicas, técnicas e institucionais que proporcionem um conhecimento básico que permita planificar e aplicar as medidas adequadas;

Observando que é vital prever, prevenir e combater na origem as causas da significativa redução ou perda da diversidade biológica;

Observando também que, quando exista uma ameaça de redução ou perda substancial da diversidade biológica, não deve alegar-se a ausência de uma certeza científica completa como razão para adiar a tomada de medidas para evitar ou minimizar essa ameaça;

Observando também que a exigência fundamental para a conservação da diversidade biológica é a conservação in situ dos ecossistemas e habitats naturais e a manutenção e recuperação de populações viáveis de espécies no seu meio natural;

Observando igualmente que a adopção de medidas ex situ, preferencialmente no país de origem, desempenha também uma função importante;

Reconhecendo a estreita e tradicional dependência de muitas comunidades locais e populações indígenas que têm sistemas de vida tradicionais baseados em recursos biológicos e a conveniência em partilhar equitativamente os benefícios provenientes da utilização de conhecimentos tradicionais, das inovações e das práticas relevantes para a conservação da diversidade biológica e para a utilização sustentável dos seus componentes;

Reconhecendo também o papel vital que a mulher desempenha na conservação e utilização sustentável da diversidade biológica e afirmando a necessidade da plena participação da mulher em todos os níveis de execução e na implementação de políticas para a conservação da diversidade biológica;

Destacando a importância e a necessidade de promover a cooperação internacional, regional e mundial entre os Estados, as organizações intergovernamentais e o sector não-governamental para a conservação da diversidade biológica e a utilização sustentável dos seus componentes; Reconhecendo que o fornecimento de novos e adicionais recursos financeiros e o acesso apropriado a tecnologias relevantes poderão conduzir a uma modificação substancial na capacidade mundial para enfrentar a perda da diversidade biológica;

Reconhecendo ainda que são necessárias disposições especiais para atender às necessidades dos países em desenvolvimento, incluindo o fornecimento de novos e adicionais recursos financeiros e o acesso adequado a tecnologias relevantes;

Observando a este respeito as condições especiais dos países menos desenvolvidos e dos pequenos Estados insulares;

Reconhecendo que são necessários investimentos substanciais para conservar a diversidade biológica e esperando que esses investimentos impliquem grandes benefícios ambientais, económicos e sociais;

Reconhecendo que o desenvolvimento económico e social e a erradicação da pobreza são prioridades básicas e fundamentais para os países em desenvolvimento;

Conscientes de que a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica têm importância crítica para satisfazer as necessidades alimentares, de saúde e de outra natureza da população mundial em crescimento, para o que são essenciais o acesso e a partilha dos recursos genéticos e das tecnologias;

Observando, por fim, que a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica fortalecerão as relações de amizade entre os Estados e contribuirão para a paz da humanidade;

Desejando reforçar e complementar os acordos internacionais existentes para a conservação da diversidade biológica e a utilização sustentável dos seus componentes; e

Determinados em conservar e utilizar de maneira sustentável a diversidade biológica em benefícios das gerações actuais e futuras;

Acordaram a presente Convenção.”


4. Da Agenda 2030

O estado do mundo e o actual e acelerado processo de globalização e degradação ambiental tem colocado a humanidade perante o enorme desafio e responsabilidade em implementar a nível global a filosofia do desenvolvimento sustentável.

Ademais, o processo em curso e já observável das alterações climáticas, que exacerbam e somam à lista de perigos e desafios que a humanidade enfrenta, e com consequências ainda não totalmente visionáveis e apreciadas por grande parte da população mundial, é um dos maiores desafios e adversidades do nosso tempo e cujos impactos negativos comprometem seriamente a capacidade dos vários países em implementar e alcançar os objectivos do desenvolvimento sustentável.

Para reforçar este desafio, foi recentemente, em 2015, dimanado pela Organização das Nações Unidas um novo plano universal de acção designado Transformando o nosso mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável onde se apela, de forma muito clara e expressiva, o seguinte e em tradução livre:

"Esta Agenda é um plano de acção para as pessoas, o planeta e a prosperidade. Também procura fortalecer a paz universal num ambiente de maior liberdade. Nós reconhecemos que erradicar a pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável.

Todos os países e partes interessadas, actuando em parceria colaborativa, irão implementar este plano. Estamos decididos a libertar a raça humana da tirania da pobreza e da carência e a cuidar e proteger o nosso planeta. Estamos determinados a tomar os passos ousados e transformadores que são urgentemente necessários para mudar o mundo para um caminho sustentável e resiliente. Ao embarcarmos nesta jornada colectiva, nós apelamos a que ninguém será deixado para trás."

Um dos Objectivos inscritos na Agenda (ODS 17), e contemplando já a actualização em 2019 da sua estratégia, é, precisamente, a construção de parcerias, pois são elas que permitem mobilizar os meios e os recursos necessários para implementar a Agenda e revitalizar a Parceria Global para o Desenvolvimento Sustentável, baseada num espírito de fortalecimento da solidariedade global, focada nas necessidades particulares dos mais pobres ou vulneráveis e com a participação de todos os países, partes interessadas e todas as pessoas.

De importância crucial é o reconhecimento da natureza integrada dos Objectivos e das suas interligações para a realização da Agenda. Se realizarmos as nossas ambições em toda a extensão da Agenda, a vida de todos será profundamente melhorada e o nosso mundo transformado para melhor. Neste sentido, o século 21 será absolutamente determinante para se tomarem, com firmeza, coragem e determinação, as grandes decisões que irão definir o futuro próximo da humanidade, e tais decisões deverão ser tomadas por cada cidadão, individualmente, e pelas várias instituições de cada país.

Conheça mais sobre os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável

 


5. Dos museus

Os museus, a museologia e as suas actividades têm evoluído ao longo dos tempos, tendo partindo de meras colecções privadas de objectos de arte ou de artefactos naturais raros ou curiosos, habitualmente exibidos nas então chamadas salas de maravilhas ou gabinetes de curiosidades, até assumirem, sobretudo a partir dos finais do século 20, uma posição central na sociedade, servindo o público através de um significativo papel abrangendo uma sempre crescente diversidade de temas e objectivos. Essa diversidade tem conduzido a uma maior especialização nos propósitos e acção de cada museu, incluindo a uma contínua reflexão crítica sobre a sua natureza e fins últimos, induzindo num enfoque cada vez mais preciso e caracterizado sobre determinados assuntos e narrativas, e, consequentemente, a desenvolverem as correspondentes e inovadoras abordagens e estratégias de programação, e a formularem e implementarem as medidas mais apropriadas para uma mais eficaz e eficiente operacionalidade.

Assim, os museus representam hoje e cada vez mais uma importante dimensão social, cultural, económica e ambiental no desenvolvimento das sociedades. O conceito nuclear de museu e da sua acção tem-se modificado, clarificado e apurado ao longo dos tempos, tendo-se fixado, actualmente, na ideia de que um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberto ao público, que adquire, conserva, pesquisa, comunica e exibe o património tangível e intangível da humanidade e do seu ambiente para fins educacionais, de estudo e lazer.


6. Do património

O objecto central da acção do museu é o património, que, tomado na sua universalidade e diversidade, tem cada vez mais conduzido a museologia à consciencialização da sua importância no desenvolvimento sustentável e integrado da sociedade. O património abrange, de facto, as dimensões por onde o homem desenrola a sua vida, dando-lhe estrutura e significado: a geográfica e a histórica; isto é, o espaço e o tempo. A estes estão associados o património natural e o cultural, material e imaterial, passado, presente e futuro. O património está indissoluvelmente ligado à nossa própria identidade, individual e colectiva, configurando a nossa história, cultura, ambiente, e língua, sendo absolutamente determinante na definição de quem somos, de onde vimos, para onde vamos, e, portanto, está na base da coesão e inclusão social das comunidades e nações. O património define, orienta e fundamenta a nossa diversidade, mas também cria um elo de ligação entre todos os homens e culturas através dos tempos e ao longo da caminhada civilizacional da humanidade. Promover o nosso colectivo património, protegendo, informando e explicando, é contribuir para criar pontes de entendimento entre os homens, para fomentar o diálogo intercultural e intergeracional, para vencer as barreiras da ignorância do conhecimento de uns e dos outros e que estão na base dos antagonismos e fundamentalismos existentes que motivam as agressões e produzem as guerras. De facto, o nosso colectivo património ajuda-nos a compreender que, em última análise, todos habitamos o mesmo planeta, respiramos o mesmo ar, todos queremos o melhor para as nossas vidas e a das gerações vindouras, e que, no fundo, todos pertencemos a uma mesma e grande árvore: a família humana. A acção museológica tem uma dimensão ética e é, pois, uma pedagogia e instrumento para a paz.